Há dias
que você vê tudo desmoronando ao seu redor, tudo cinza, sem gosto mas exalando
um cheiro putrefato que faz você ficar acordado á noite olhando para o teto,
vendo algumas luzes de faróis dos carros na rua dançando pra frente e pra traz
pelos pequenos buracos na sua janela, enquanto uma brisa quente sopra pra
dentro, carregando consigo ares poluídos e pesados, que só aumentam a sua
agonia de querer dormir, pra que tudo isso possa ter uma pausa, e essa pausa é
o que te mantém são, é o que te mantém de desistir de tudo, jogar tudo pro
alto, fazer barulho, vomitar para fora do seu organismo tudo aquilo que te faz
mal, que te faz cinza e silencio.
há dias
que você acorda, deseja já estar dormindo de novo, sair da cama pra quê? você
já não enxerga motivos pra se expor ao ridículo de sair na rua, levar tapa na cara,
ser assaltado, cuspido e quando você se pega, caminhando olhando pra frente,
sem desviar o olhar, em direção á uma rua qualquer, que vai te levar para um
lugar qualquer, que ainda sim não vai ser bom o suficiente, não vai ser o que
você precisa, Tendo a certeza de que você está nesse loop eterno de cansaço,
até seu pé começar a doer, e depois seu joelho começar a doer, assim logo sua
perna fica pesada de mais pra continuar, o que te obriga a parar num banco de
uma praça qualquer, e só observar as outras pessoas caminhando.
Observar
as outras pessoas caminhando, seguindo suas vidas e por mais que odeie
intromissões, se perguntando como seria a vida delas, como será que aquela
mulher carregando uma sacola da Riachuelo se sente quando chega em casa, como
ela é feliz com o marido dela? o que ela pensa quando repousa a cabeça no
travesseiro e olha pra cima vendo de novo aquelas luzes dançando no teto? Você
só olha, só olha porque está cansado de pensar, sua mente já passou da fase
"cinza" e agora tudo é um vazio alvo, grisalho e cansado. E você que
está sempre de headphones no volume 8, não no 10, porque você ainda quer
escutar um pouco do que se passa ao redor, tem medo de ser atropelado por uma
ambulância ou qualquer outra coisa barulhenta que produza sirenes ou buzinas;
Porque no fundo, você sabe que tem que continuar ali pra ver o que vai
acontecer em seguida. Se levanta e volta a caminhar, porque o tédio da vida
alheia te esmaga.
Você
que está sempre de headphones, meio alheio ao mundo e imaginando porque seria
tão difícil pessoas acreditarem que sua vida tem de verdade algo de fantástico,
algo de incompreendido, algo de genial. Você se pergunta se algum dia irá
encontrar alguém que compartilhe de algumas teorias loucas ou radicais que só
você tem a ousadia de pensar, e talvez seja por fala-las que esteja tão sozinho
e quase que abandonado. Você se pega de novo olhando pra frente, quase
congelado, abre então uma cerveja que tem gosto amarelo e meio amargo o qual
você já programou seu cérebro pra gostar e apreciar.
Cansado
você volta pra casa, sabendo que talvez nunca vá conseguir botar em praticar as
coisas que aprendeu sobre contatos humanos, ou comportamentos sociais, você
simplesmente não se encaixa. - E como. Você só quer ligar alguma musica calma,
com acordes meio felizes, e meio tristes; daqueles que te fazem refletir e
sempre que os escuta, reflete sobre a dialética de tais sentimentos e humores.
Quando
você menos vê já é segunda feira, você tem que acordar cedo e ir bater ponto,
responder chamada, ou qualquer compromisso periódico e cheio de pessoas que não
te entendem. - Muito animador. Aí antes de sair de casa, você vai até sua
penteadeira, descola do manequim uma das suas preferidas mascaras,
"Sorriso de Segunda feira", "Falta de Sono de terça",
"Satisfeito da quarta", "Neutro da quinta" e "Chega
Logo fim-de-semana da sexta", e quando finalmente o final de semana chega
na semana seguinte, você descansa as mascaras, Senta-se na sua poltrona confortável
e se lembra que não dorme há alguns dias, Se lembra de olhar pro teto e ver as
luzes dos faróis dançando, de repente tudo fica cinza, e você sente aquele odor
fétido de novo, mas você está cansado de mais pra não dormir, aí mesmo sentado
você "falha", desligamento de emergência, e você acorda desejando ter
hibernado por alguns meses, sabendo que talvez ninguém tenha dado falta de
você.
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