segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Vale.

eu ando com medo de te encontrar…
não rastreio teus passos, não escondo meus medos.
sei que fui eu quem clamou o fim, e sei que é meu o fardo de te libertar de mim.
no entanto me pego lendo a mesma pagina do livro da vida varias vezes, 
me pego ansioso e insone na madrugada à esperar o sol nascer
com medo de me entregar novamente aos remédios
com medo de depender de novo, seja de você, seja de outra pessoa, seja de outra cartela
minha cabeça está despedaçada, e eu gostaria de ter uma voz potente pra poder gritar
expurgar todo ódio, raiva, tristeza, amargura e rancor que meu peito teima em magnetizar
mas eu sou de pedra, denso e duro; nada sai da minha boca, nem o sorriso que habitava ali
nada escorre pelos meus olhos vermelhos, que cansados, teimam em fechar em momentos inoportunos
acordo já cansado, pesado e escuro; meus olhos vazios teimam em travar enquanto minha mente vagueia por memórias que nem existem
não, não é falta de interesse no que os outros dizem ou estão fazendo, é só que meus “problemas” são a causa do meu deficit de atenção
é como gravidade, inexplicável mas poderosa, e ainda não entendo a gravidade de sentir isso.
não tenho como mensurar o estrago que cresce e necrosa meu peito, consumindo lentamente o que restou
de onde tinha-se um coração, agora resta um buraco negro, tão grande quanto você um dia foi
e tão poderoso que aos poucos engole o que restou de mim, e joga pra escuridão.
de uma forma desfigurada, desmaterializada; eu só sinto dor e frio,
até me peguei recentemente imaginando cenas que incluem minha auto morte.
estou desfigurado, me escondo atrás de mascaras que fazem meu dia-a-dia suportavel,
no entanto o pior lugar do mundo é o chuveiro, onde despido eu sou forçado á me olhar no espelho,
ja parei de contar quantos espelhos eu esmurrei com raiva de mim mesmo, ou quantos pontos já levei por isso
já parei de conta quantas noites eu varei, quantas garrafas eu esvaziei, quantos gritos eu já sufoquei.
a verdade é que eu estou parado no tempo há muito tempo.
tento me sufocar com meu travesseiro sabendo que meu corpo em reflexo
vai me obrigar à respirar de novo em alguns segundos. 
e me obrigar a oxigenar meu cérebro.
andar nessa campina se equipara com o vale mais sombrio.
e a qualquer esquina te ver de novo é como um infarto.
por isso evito sair do meu quarto. e sinto a dor do parto

de ter de deixado partir.