domingo, 20 de outubro de 2013

                Há dias que você vê tudo desmoronando ao seu redor, tudo cinza, sem gosto mas exalando um cheiro putrefato que faz você ficar acordado á noite olhando para o teto, vendo algumas luzes de faróis dos carros na rua dançando pra frente e pra traz pelos pequenos buracos na sua janela, enquanto uma brisa quente sopra pra dentro, carregando consigo ares poluídos e pesados, que só aumentam a sua agonia de querer dormir, pra que tudo isso possa ter uma pausa, e essa pausa é o que te mantém são, é o que te mantém de desistir de tudo, jogar tudo pro alto, fazer barulho, vomitar para fora do seu organismo tudo aquilo que te faz mal, que te faz cinza e silencio.
                há dias que você acorda, deseja já estar dormindo de novo, sair da cama pra quê? você já não enxerga motivos pra se expor ao ridículo de sair na rua, levar tapa na cara, ser assaltado, cuspido e quando você se pega, caminhando olhando pra frente, sem desviar o olhar, em direção á uma rua qualquer, que vai te levar para um lugar qualquer, que ainda sim não vai ser bom o suficiente, não vai ser o que você precisa, Tendo a certeza de que você está nesse loop eterno de cansaço, até seu pé começar a doer, e depois seu joelho começar a doer, assim logo sua perna fica pesada de mais pra continuar, o que te obriga a parar num banco de uma praça qualquer, e só observar as outras pessoas caminhando.
                Observar as outras pessoas caminhando, seguindo suas vidas e por mais que odeie intromissões, se perguntando como seria a vida delas, como será que aquela mulher carregando uma sacola da Riachuelo se sente quando chega em casa, como ela é feliz com o marido dela? o que ela pensa quando repousa a cabeça no travesseiro e olha pra cima vendo de novo aquelas luzes dançando no teto? Você só olha, só olha porque está cansado de pensar, sua mente já passou da fase "cinza" e agora tudo é um vazio alvo, grisalho e cansado. E você que está sempre de headphones no volume 8, não no 10, porque você ainda quer escutar um pouco do que se passa ao redor, tem medo de ser atropelado por uma ambulância ou qualquer outra coisa barulhenta que produza sirenes ou buzinas; Porque no fundo, você sabe que tem que continuar ali pra ver o que vai acontecer em seguida. Se levanta e volta a caminhar, porque o tédio da vida alheia te esmaga.
                Você que está sempre de headphones, meio alheio ao mundo e imaginando porque seria tão difícil pessoas acreditarem que sua vida tem de verdade algo de fantástico, algo de incompreendido, algo de genial. Você se pergunta se algum dia irá encontrar alguém que compartilhe de algumas teorias loucas ou radicais que só você tem a ousadia de pensar, e talvez seja por fala-las que esteja tão sozinho e quase que abandonado. Você se pega de novo olhando pra frente, quase congelado, abre então uma cerveja que tem gosto amarelo e meio amargo o qual você já programou seu cérebro pra gostar e apreciar.
                Cansado você volta pra casa, sabendo que talvez nunca vá conseguir botar em praticar as coisas que aprendeu sobre contatos humanos, ou comportamentos sociais, você simplesmente não se encaixa. - E como. Você só quer ligar alguma musica calma, com acordes meio felizes, e meio tristes; daqueles que te fazem refletir e sempre que os escuta, reflete sobre a dialética de tais sentimentos e humores.           
                Quando você menos vê já é segunda feira, você tem que acordar cedo e ir bater ponto, responder chamada, ou qualquer compromisso periódico e cheio de pessoas que não te entendem. - Muito animador. Aí antes de sair de casa, você vai até sua penteadeira, descola do manequim uma das suas preferidas mascaras, "Sorriso de Segunda feira", "Falta de Sono de terça", "Satisfeito da quarta", "Neutro da quinta" e "Chega Logo fim-de-semana da sexta", e quando finalmente o final de semana chega na semana seguinte, você descansa as mascaras, Senta-se na sua poltrona confortável e se lembra que não dorme há alguns dias, Se lembra de olhar pro teto e ver as luzes dos faróis dançando, de repente tudo fica cinza, e você sente aquele odor fétido de novo, mas você está cansado de mais pra não dormir, aí mesmo sentado você "falha", desligamento de emergência, e você acorda desejando ter hibernado por alguns meses, sabendo que talvez ninguém tenha dado falta de você.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Eletric Ego

Boom,
  E de repente, pôde-se ouvir um incrível fade-out, a desaceleração da maquina chamada cidade, mesmo que vivendo um pouco distante dela, um silencio quase que absoluto pairava no ar quebrado apenas pelos carros que rasgavam a rua. Estes, estavam mais barulhentos que nunca, e o asfalto gemia de dor, uma dor surda, sem inicio, sem irradiação, sem melhora, só piora.
  Eis que o silencio dura apenas alguns segundos, Malditos Geradores de Energia! voltam com o burburinho, o lamento elétrico, a nuvem de poeira sonora que paira sobre a cidade, alteras nossas ondas cerebrais e confunde alguns sentidos, reflexos e instintos humanos, faz de nós zumbis elétricos, acostumados com corrente elétrica correndo em nossas veias como monstros Frankensteins, desacostumados com o sangue, com o lado humano tedioso e monótono de talvez ler um livro ou escrever algo que talvez só faça sentido pra quem o escreveu.
  De longe da pra se ouvir as fabricas desacelerando até encerrar as produções, um prejuízo enorme pros grandes tubarões que as controlam, e uma merecida folga pros operários que tem um breve momento pra respirar, mesmo que seja o ar contaminado que exala das suas mascaras de oxigênio pós-guerra. Bom, Energia é bastante cara por aqui, mais caro ainda é a falta dela, de um jeito ou de outro sempre estamos perdendo, vazando, deixando escapar pelos nossos dedos, a nossa humanidade e
simplicidade.
  Talvez se o silencio durasse mais do que o período dos geradores entrarem em funcionamento, alguns abraços surgiriam, talvez o medo do escuro aproximasse as famílias separadas com televisões em cada cômodo, computadores individuais protegidos por senhas enormes, e os egos elétricos que entram em desespero quando não se tem o que fazer,
  Sacamos dos bolsos equipamentos à pilha, videogames de bolso, lanternas, qualquer coisa que pareça uma "luz no fim do tunel" da escuridão gerada por um simples Blackout