domingo, 27 de junho de 2010

O Frasco Marrom.


Com ele a preocupação simplesmente não vinha,tudo parecia mais calmo,menos irritante, mais compreensível e menos intolerante. Na verdade, não conseguia concatenar a palavra "raiva". Creio que isso era o melhor principio ativo existente naquele frasco marrom com a pequena tarja preta escrita "Venda sob prescrição medica".
Os outros "companheiros" também compartilhavam da mesma sensação, todos os dias depois no intervalo entre o almoço e a reabilitação, debatíamos o efeito tão inesperadamente positivo daquelas pílulas.
Ninguém ali sabia da vida de ninguém,nem lembrávamos o porque de estarmos todos naquele lugar. Todos pareciam em paz, vestidos de branco, como nas vinhetas de fim de ano da globo. Me vinha à cabeça aquela musica: "Hoje é um novo dia... de um novo tempo... que começou...". Mas logo que começava a pensar na raiva que sentia ao ouvir aquela vinheta chata, a musica ia embora, a raiva ia embora, e tudo era branco e pacifico de novo.
Preso numa espécie de consciência entorpecida, tinha flashes de memórias, hora raivosas, hora pacificas, Mas com um monte de sorrisos e abraços.
Ouvi um dia, dois doutores conversando. Fiquei sabendo que aquele frasco marrom de onde saiam as miraculosas pílulas, era de um remédio experimental muito promissor na cura da psiquê em que nos encontrávamos, não sabia o que significava aquilo e isso me dava tanta raiva que nem o remédio a fazia passar.
Na noite seguinte, invadi o laboratório e tomei alguns 2 ou 6 comprimidos. Logo após tomar, todo aquele aposento branco começou a brilhar, se tornar cada vez mais alvo, mais branco até que as nossas roupas.
Então surgiu um homem já vivido, cabelos grisalhos e longos e olhos de sabedoria que me disse:
"Hoje, é um novo dia, de um novo tempo que começou, nesses novos dias, as alegrias serão de todos, é só querer."

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