sexta-feira, 21 de maio de 2010

Penumbra


Penumbra
Guilherme Nery

Ainda estava cedo para mim, mas, já estava ali há certo tempo. Sem pestanejar nem fazer outra coisa que não fosse beber meu chopp sossegado. Estava ali sentado, numa mesa de canto, com pouca iluminação, penumbra, somente com a coleção de copos vazios a minha frente. Poucas coisas me alegravam mais do que ficar ali sentado, a noite inteira vendo o tempo e as pessoas passarem.
Às vezes algum conhecido aproximava-se, nada com muita intimidade, até porque, eu não me permitia ter esse tipo de contato, tão... Humano; Muito raramente algum assunto nas mesas vizinhas capturava minha atenção, mas, na grande maioria das vezes, o burburinho de vozes era a única coisa que eu escutava no meu solitário silêncio.
Estar ali, lembrava-me de que a vida é passageira, assim como os sonhos que um dia tive, fazia-me lembrar também de como a vida tinha sido boa comigo, em me proporcionar momentos tão intensos de alegria, que, infelizmente, nunca vão voltar.
Estar ali, fazia-me sentir um fantasma, na realidade; Sem corpo presente, Sem vontade própria,sem amigos, sem amor, sem sexo; somente a vagar sem propósito. E realmente algumas coisas levavam-me a crer que, realmente, eu não estava ali, que meu lugar não era aquele, por mais que a inércia me mantivesse preso àquele banco.
Até que, finalmente, as luzes se apagaram; eu me tornara tão fantasma, e membro daquele cenário, que os garçons esqueceram-se de me avisar que estavam fechando. Então, gritei!
Afinal, alguém, nem que fossem os garçons, tinham que me notar, ali; sentado havia um certo tempo na penumbra.

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