quinta-feira, 27 de maio de 2010

Selva Urbana, Rotina.


Selva, Urbana, Rotina.
Guilherme Nery

Acordei mais cedo naquele dia, ainda estava escuro. Preparei-me física e psicologicamente para enfrentar mais um dia na selva, já estava nela há algum tempo, e já estava cansado, sim, cansado!
Tudo parecia em “ordem” na floresta, mais um dia agitado e cheio de turbulências. Saí de casa e já estava tudo vermelho, parecia até que o sol havia tomado um veneno escarlate; Sombras, contornos, reflexos; Todos vermelhos.
Sangue no asfalto, tiros nos telhados, casas rachadas. Na rua, Um muro desaba. Para o dono daquela casa, o muro pesa mais que um mundo inteiro. Algumas pessoas na rua, choram; fico me perguntando porque será que ninguém as ajuda? porque eu mesmo não as ajudo. Vejo-me embebedado com minhas hipocrisias, até porque estava cansado, sim, cansado!
Continuei a andar, porque o dia estava apenas começando, via-me sem rastros, pois o anêmico e faminto sangue que corria como um córrego nas ruas, havia apagado as pegadas, que minhas botas 42 haviam deixado, com o coagulado, que me sujava os pés.
Cheguei ao meu destino, tudo parecia sumir, tinha de esquecer tudo que vi ou senti no caminho para lá, pois “Todos são felizes quando produzem bem”. O chefe, um leão, com mil caninos afiados, e nós, meras presas fáceis
No portão de saída, outro choque de realidade. Eu estava cansado, sim, cansado. E já estava ficando escuro, tentei respirar fundo para continuar andando. Não deu! O urbano ar, cinza e pesado, parecia sufocar-me com suas mãos imaginárias, enquanto meus pulmões agonizavam. Continuei confiante de que chegaria a minha toca e dormiria bem (mal).
No caminho de volta, não havia mais o fedorento sangue, horas mais cedo, uma enxurrada de água ácida, proveniente das “chuvas industriais” havia levado o sangue, meus rastros, os telhados, e os destroços do muro a pouco ali desabado.
Deitei na minha cama, Cansado,sim, Cansado. Adormeci ao som do blues e do jazz urbanos, mas acabei acordando no meio da noite.
O silêncio era aterrador! Eu estava tão acostumado com os gritos urbanos, que me pareciam ecoar nos meus ouvidos. Então, tomei algumas pílulas e, finalmente, desejava não acordar amanhã, pois, já estava cansado; Sim, cansado.

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